Trabalho, inclusão e tecnologia: home office como opção laboral para pessoas com deficiência

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Especialista em Negócios Digitais pela Universidade de São Paulo em 2023.

Escrito por Sandyara B. Doro Peres Orientado por Pablo Henrique Paschoal Capucho

Sumário


Resumo


O objetivo dessa pesquisa é identificar como seria uma vaga atrativa para profissionais com deficiência, destacando o melhor modelo de trabalho e benefícios a serem ofertados.

Motivação


A pandemia da COVID-19 mudou a maneira como as empresas funcionam no Brasil. O "home office" chegou para ficar, apesar de várias pessoas terem voltado ao formato presencial, muita gente continua trabalhando de casa ou indo poucas vezes ao escritório.

Embora muitas pessoas tenham se dado bem com as mudanças no trabalho durante a pandemia, aquelas com deficiência enfrentaram mais dificuldades econômicas. Elas perderam empregos com mais frequência e tiveram taxas de desemprego mais altas do que as pessoas sem deficiência. No Brasil, há 17,9 milhões de pessoas com deficiência, mas, mesmo com uma lei que incentiva a inclusão delas no trabalho, apenas 28,3% estão conseguindo emprego ou já têm um.

Estudos feitos em outros países mostraram que a falta de flexibilidade no local de trabalho é um grande obstáculo para pessoas com deficiência conseguirem emprego. Por exemplo, uma organização no Reino Unido chamada The Work Foundation fez pesquisas sobre o trabalho remoto e híbrido para profissionais com deficiência. Descobriu-se que 70% dessas pessoas disseram que, se os empregadores não permitissem o trabalho remoto, isso teria um impacto negativo em sua saúde física ou mental. Além disso, a pesquisa indicou benefícios para as empresas também, já que 85% dos trabalhadores com deficiência se sentiram mais produtivos trabalhando em casa do que no escritório.

Embora a lei garanta que as empresas devem incluir pessoas com deficiência, a realidade no mercado de trabalho no Brasil mostra desafios importantes. Muitos empregadores hesitam em contratar pessoas com deficiência, alegando falta de confiança em suas habilidades e argumentando que essa parte da população tem baixa qualificação... Acreditam nisso? Esse pensamento torna mais difícil para que essas pessoas consigam empregos, mesmo com a proteção legal.

Essa situação levanta uma pergunta importante: embora as experiências de trabalho remoto para pessoas com deficiência tenham sido positivas, há poucos estudos nacionais sobre esse tema. A maioria das pesquisas existentes é internacional, principalmente nos Estados Unidos e países da União Europeia, que têm leis consolidadas para proteger os direitos das pessoas com deficiência, como o Ato de Pessoas com Deficiência (ADA) e a Lei Europeia da Acessibilidade. É evidente que as políticas de emprego variam em diferentes lugares, mas a preocupação comum é garantir que as pessoas com deficiência tenham acesso ao mercado de trabalho.

O Brasil tem quase um quarto de sua população formada por pessoas com deficiência. Além disso, com mais empresas adotando o modelo de trabalho híbrido devido à diminuição das restrições de isolamento social, a importância desta pesquisa aumenta. Ela preenche uma lacuna ao explorar como é possível usar a tecnologia para criar modelos de trabalho que incluam efetivamente a população com deficiência.

Metodologia


Antes de qualquer coisa, algumas perguntas-chave foram definidas para guiar o rumo da pesquisa:

  1. Quão importante é o trabalho remoto para atrair, manter e promover pessoas com deficiência?
  2. Quais são os desafios e oportunidades do trabalho remoto para manter, promover e aumentar a produtividade das pessoas com deficiência no mercado de trabalho?
  3. O trabalho remoto está realmente sendo mais inclusivo e acessível para essa população?

O trabalho segue um método estruturado de pesquisa que envolve duas fases principais: uma fase inicial qualitativa para explorar o tema e uma segunda fase quantitativa que inclui o desenvolvimento de uma ferramenta de avaliação.

Segue o detalhamento das etapas:

  1. Conversas iniciais em grupo: Usou-se uma técnica chamada "focus group" para reunir pessoas e discutir sobre o ambiente de trabalho, seja remotamente ou presencialmente. O objetivo era começar uma conversa e entender diferentes perspectivas, literalmente uma discussão em grupo mediada pelo pesquisador. As principais ideias dessa conversa foram analisadas para criar a base do questionário que iria ser divulgado em breve.
  2. Criando o questionário: Isso envolveu planejar como escolher as pessoas que responderiam, por onde seria feito o questionário e decidir como as perguntas seriam enviadas para obter as respostas.
  3. Envio do Questionário: As perguntas foram enviadas para as pessoas responderem utilizando o Google Forms. Também foi possível acompanhar as respostas em tempo real para garantir que todas as pessoas participassem, podendo enviar lembretes ou fazer divulgações online, se necessário.
  4. Análise e Apresentação dos Dados: Depois de coletar as respostas e planilhá-las no Microsoft Excel, tornou-se fácil organizar os resultados em tabelas e gráficos que mostram estatísticas gerais e criar gráficos para facilitar o entendimento. O questionário geralmente tem perguntas com opções de resposta tipo "Likert": você já deve ter se deparado com perguntas do tipo: "De 1 a 5, sendo 1 equivalente à Discordo totalmente e 5 à Concordo totalmente...", as alternativas desse tipo de pergunta são a escala Likert.

Nessa pesquisa, não foi preciso identificar quem são os participantes, isto é, quem responde o questionário, por ser uma pesquisa de opinião pública sobre um tema específico, não exige aprovação ética formal.

Detalhamento

Na etapa inicial, um grupo de 5 pessoas, conhecidas da autora, que têm algo em comum - todas têm alguma deficiência foi convidado para uma discussão. A conversa seguiu de forma remota via chamada em grupo por 1h-1h30, discutindo sobre o assunto em questão. Ao contrário de uma entrevista, onde uma pessoa responde a perguntas, um grupo de discussão é mais como uma conversa moderada por alguém que apresenta tópicos para coletar opiniões. Nessa interação, não há respostas certas ou erradas, e todos têm a chance de expressar suas opiniões. A sessão foi gravada para que pudesse analisá-la mais tarde, com a permissão dos participantes, claro. Agradeci a todos no final e expliquei qual seria o próximo passo da pesquisa.

Essa discussão em grupo foi guiada por três perguntas:

  • Expectativas sobre o Trabalho Remoto: O que você espera em termos de qualidade de vida ao trabalhar remotamente, considerando que você tem uma deficiência?
  • Desafios e Benefícios do Trabalho Remoto: Quais são os desafios e benefícios que você vê no trabalho remoto, independentemente da sua situação atual? O que pode ser agregado como benefícios para que se torne mais atrativo?
  • Abordagem para Outras Pessoas com Deficiência: Como podemos encorajar outras pessoas com deficiência a responderem os questionamentos que estamos levantando aqui?

Essas perguntas foram cruciais para criar o questionário que os participantes responderam. Eles compartilharam os benefícios que mais valorizam no trabalho, destacando que o trabalho remoto é vital para criar um ambiente de trabalho acessível que atenda às suas necessidades. Muitos viram a pandemia como uma oportunidade para aumentar as oportunidades de emprego para pessoas com deficiência, especialmente no trabalho remoto, que é visto como essencial para criar um ambiente de trabalho mais inclusivo.

O questionário foi criado usando o Google Forms, ferramenta de formulários online do Google, tornando-o acessível para tecnologias assistivas e seguindo as diretrizes de acessibilidade para conteúdo na web (WCAG). O questionário inclui 11 perguntas, abordando diferentes aspectos, desde identificar a deficiência do participante até suas preferências de trabalho e benefícios desejados. Essa abordagem visa incluir pessoas com diferentes níveis de educação, e as perguntas estão acompanhadas de traduções em Libras para tornar o questionário mais inclusivo para a comunidade surda.

Antes de compartilhar o questionário com todos, as pessoas do grupo de discussão foram convidadas à testá-lo para garantir que o tempo para responder e a compreensão das perguntas fossem adequados. O questionário foi projetado para ser respondido de forma anônima por pessoas com deficiência, necessidades específicas ou neurodivergentes, e leva cerca de 6 minutos para ser preenchido.

O questionário foi compartilhado através do LinkedIn da autora e em grupos de pessoas com deficiência no WhatsApp, direcionado a indivíduos que estão atualmente ou já estiveram no mercado de trabalho. Os participantes foram incentivados a compartilhar o questionário com outros contatos, e podiam respondê-lo usando celular, computador ou tablet. A escolha das pessoas para participar não foi feita ao acaso, pois nem todas tinham uma chance garantida de serem escolhidas. Infelizmente, algumas pessoas não puderam participar porque o questionário precisava ser respondido online, o que deixou de fora aqueles que não tinham acesso à internet.

Para garantir a qualidade do questionário, vários passos foram antecipados na construção da metodologia. Cada pergunta foi projetada com um propósito específico para responder às questões de pesquisa. Um teste de consistência interna será aplicado, e também serão realizados grupos de discussão com especialistas no assunto, além de um pré-teste com a população-alvo. O questionário esteve disponível durante janeiro de 2023, com comunicações regulares nas redes sociais para promovê-lo. Os resultados foram compilados e analisados utilizando o Microsoft Excel. A análise incluiu a descrição das frequências das respostas e a exploração de possíveis associações entre diferentes variáveis. Essa abordagem nos permitiu entender mais detalhadamente as informações coletadas.

Nota: Na Tabela 1, usa-se o termo "Variável de pesquisa", até então não apresentado. Em termos simples, é uma característica ou fator que os pesquisadores estudam para entender melhor algo. Por exemplo, se estivermos pesquisando sobre o impacto do exercício na saúde, a variável de pesquisa poderia ser a quantidade de exercício que as pessoas fazem diariamente.

Tabela 1: Relação das perguntas do questionário com as variáveis de pesquisa

Variável de pesquisa Pergunta do questionário
Importância do Trabalho Remoto (para atração, progressão e retenção de profissionais com deficiência)
  • Como era o seu modelo de trabalho antes, durante e pós-pandemia (hoje)?
  • O quão importante é ou seria o modelo de trabalho remoto para você?
  • Você consideraria trocar de emprego caso o emprego em que você trabalha, ou trabalhasse, tivesse de voltar ao modelo presencial obrigatório?
  • Você consideraria aceitar propostas de emprego caso o modelo de trabalho seja presencial?
Benefícios, Desafios e Oportunidades
  • Quais benefícios são mais importantes para você, além do formato de trabalho?
  • O que mais lhe agrada no trabalho remoto?
  • Quais são os seus maiores desafios com relação a trabalhar remotamente?
Grau de Inclusão e Acessibilidade
  • Os benefícios do trabalho remoto que mencionou, estão potencialmente ligados à acessibilidade?
  • Os desafios estão potencialmente ligados à falta de acessibilidade ou à atitudes capacitistas?

Resultados


Todos os resultados acompanharão um parágrafo de resumo, gráfico quando aplicável e uma tabela logo em seguida descrevendo os dados.

Demografia

O questionário foi preenchido voluntariamente por 468 pessoas. Após revisão, 27 participantes foram removidos porque não se identificaram como pessoas com deficiência ou com necessidades específicas. Isso resultou em uma amostra de 443 pessoas para análise.

Em relação às características dessa amostra, a Tabela 2 mostra os principais tipos de deficiência e os setores de trabalho. Dos 443 participantes, a maioria (35%) possui alguma deficiência física ou motora, 26,2% têm surdez ou deficiência auditiva, 21% têm algum transtorno do neurodesenvolvimento, 13,5% têm deficiência visual, e 4,3% têm deficiência múltipla. Não foi possível encontrar participantes com deficiência intelectual. Quanto ao setor de trabalho, a maioria (64,1%) trabalha no setor privado, 28,9% são autônomos e 12,6% são servidores públicos.

Gráfico 1: Características dos participantes

Tabela 2: Características dos participantes

Deficiência Participantes Porcentagem
Deficiência Visual (cegueira; baixa visão; visão monocular; etc.) 60 13,5%
Deficiência Físico-Motora (paraplegia; paralisia cerebral; etc) 155 35%
Deficiência Intelectual (Síndrome de Down; Sindrome de Rett; etc.) 0 0%
Surdez ou Deficiência Auditiva 116 26,2%
Transtornos do Neurodesenvolvimento (Autismo; TDAH; AH/SD; etc.) 93 21%
Deficiência Múltipla (surdocegueira) 19 4,3%

Gráfico 2: Área de atuação dos participantes

Tabela 3: Área de atuação dos participantes

Setor de atuação Participantes Porcentagem
Público 56 12,6%
Privado 259 64,1%
Autônomo/Freelance 128 28,9%

Modalidades de Trabalho

A pesquisa mostrou que, usando uma escala de 5 pontos onde 1 significa "Não é importante" e 5 significa "Muito importante", a maioria das pessoas (95%, ou seja, 421 respondentes) considera o trabalho remoto importante. Isso inclui aqueles que o classificaram como "Importante" ou "Muito importante", como mostrado no Gráfico 3 e na Tabela 4.

Gráfico 3: Importância do Trabalho Remoto

Tabela 4: Importância do Trabalho Remoto

Grau de Importância Participantes Porcentagem
Sem importância 8 2%
Pouco importante 0 0%
Neutro 13 3%
Importante 44 10%
Muito importante 380 85%

A relevância do "home office" fica ainda mais evidente quando os participantes relataram como foi seu trabalho durante a pandemia da COVID-19.

Considerando o antes, durante e depois da pandemia: o Gráfico 4 e Tabela 5 evidenciam que, antes da pandemia, a maioria (90,5% ou 401 respondentes) trabalhava presencialmente. Durante a pandemia, o trabalho remoto tornou-se predominante, abrangendo 89,6% (397 respondentes). Agora, no período pós-pandemia, a distribuição é mais equilibrada. O trabalho remoto lidera com 41,5% (184 respondentes), seguido pelo modelo híbrido com 24,2% (107 respondentes), e 17,2% (76 respondentes) optaram pelo trabalho presencial.

O trabalho remoto e híbrido permitiu com que esse público pudesse continuar empregado. Contudo, é interessante notar que, no período pós-pandemia, 22,8% (101 respondentes) estão desempregados, representando o período com o maior número de pessoas desempregadas.

Gráfico 4: Adoção de modelos de trabalho antes, durante e pós pandemia

Tabela 5: Adoção de modelos de trabalho antes, durante e pós pandemia

Modelo de Trabalho Pré-pandemia Durante a pandemia Pós-pandemia
Remoto 8,1% 89,6% 41,5%
Híbrido 3,8% 7,7% 24,2%
Presencial 90,5% 1,1% 17,2%
Sem trabalho 0,0% 0,0% 22,8%

Por fim, tendo em vista o modelo de trabalho presencial, 64,3% (285 respondentes) cogitaria sair de um emprego remoto caso anunciasse a volta para o modelo presencial. Reforçado pelo fato de que 74,9% (332 respondentes) recusariam propostas de empregos caso elas fossem de formato presencial conforme Gráfico 5 e Tabela 6.

Gráfico 5: Impacto da modalidade de trabalho na busca por emprego

Tabela 6: Impacto da modalidade de trabalho na busca por emprego

Questionamento Sim Não
Você consideraria trocar de emprego caso o emprego em que você trabalha, ou trabalhasse, tivesse de voltar ao modelo presencial obrigatório? 285 (64,3%) 158 (35,7%)
Você consideraria aceitar propostas de emprego caso o modelo de trabalho seja presencial? 101 (25,1%) 332 (74,9%)

Desafios, Benefícios e Oportunidades

O Gráfico 6 e Tabela 7 mostram quais são os benefícios mais importantes para pessoas com deficiência, além do tipo de trabalho. A lista inclui coisas que as empresas normalmente oferecem, e os participantes indicaram se cada benefício é importante para eles ou não, podendo escolher vários itens. Os resultados foram apresentados em um gráfico de funil, destacando que a assistência médica é o benefício mais essencial para 96% das pessoas (426 respondentes), seguido por um plano de carreira definido, que é atraente para 91% da amostra (405 respondentes).

Gráfico 6: Benefícios mais relevantes

Tabela 7: Benefícios mais relevantes

Benefício Votos Porcentagem
Assistência médica 425 96%
Planos de carreira 403 91%
Treinamentos e cursos 314 71%
Vale flexível 305 69%
Programas de bem estar 239 54%
Assistência odontológica 234 53%
Seguro de vida 212 48%
Bônus por desempenho 203 46%
Auxílio maternidade/paternidade 132 30%
Auxílio creche 93 21%

Falando, sobre os pontos positivos e desafios que o trabalho remoto apresenta para pessoas com deficiência, observando o Gráfico 7 e a Tabela 8, um ambiente adaptado para o conforto dessas pessoas é apreciado por 35,2% delas (287 respondentes), assim como a flexibilidade, que agrada a 24,6% (109 respondentes). Por outro lado, os maiores desafios evidenciados no Gráfico 8 e Tabela 9, incluem a dificuldade em se desconectar do trabalho, mencionada por 28,2% (125 respondentes), e a utilização das ferramentas fornecidas pela empresa para trabalhar remotamente, citada por 27,3% (121 respondentes).

Gráfico 7: Oportunidades no Trabalho Remoto

Tabela 8: Oportunidades no Trabalho Remoto

Oportunidades Votos Porcentagem
Flexibilidade 108 24,6%
Economia de tempo 82 18,7%
Poder trabalhar em vários lugares 15 3,4%
Ambiente mais favorável à concentração 32 7,4%
Tempo de sobra com família 28 6,5%
Ambiente mais adaptado ao conforto 155 35,2%
Não estar no escritório 3 0,9%
Produtividade 14 3,2%
Nada 0 0%
Prefiro não responder 0 0%

Gráfico 8: Desafios no Trabalho Remoto

Tabela 9: Desafios no Trabalho Remoto

Desafios Votos Porcentagem
Uso das ferramentas de trabalho remotas 120 27,3%
Meu espaço físico de trabalho 54 12,2%
Não conseguir se desligar do trabalho 124 28,2%
Comunicação Assíncrona 50 11,5%
Conectividade à Internet 7 1,8%
Distrações em casa 14 3,2%
Manter uma rotina 12 2,9%
Nada 49 11,1%
Prefiro não responder 0 0%

Por fim, aos participantes responderam se esses desafios e oportunidades estão relacionados à acessibilidade e inclusão de acordo com o Gráfico 9 e Tabela 10. Para 83,5% (370 respondentes), as oportunidades destacadas estão potencialmente ligadas à acessibilidade. Em relação aos desafios, 67% (297 respondentes) os relacionam com a falta de acessibilidade ou atitudes capacitistas.

Gráfico 9: Entendendo se há alguma relação com Acessibilidade

Tabela 10: Entendendo se há alguma relação com Acessibilidade

Questionamento Sim Não
As oportunidades que você destacou anteriormente estão potencialmente ligadas à acessibilidade? 370 (83,5%) 73 (16,5%)
Os desafios que você destacou anteriormente podem estar ligados a falta de acessibilidade ou à atitudes capacitistas? 297 (67%) 146 (33%)

Considerações


Esses números mostram que, no Brasil, muitas pessoas com deficiência entre 15 e 64 anos estão desempregadas. Isso destaca um grande desafio para garantir que essas pessoas sejam incluídas no mercado de trabalho. Entre 2007 e 2011, o número total de empregos aumentou, mas o emprego para pessoas com deficiência diminuiu.

Empresas reclamam que a Lei de Cotas, que exige a contratação de pessoas com deficiência, é punitiva e restritiva, sem oferecer suporte adequado. Além disso, há a percepção de que a lei protege demais os trabalhadores com deficiência, levando à suposta falta de comprometimento no trabalho. Por outro lado, pessoas com deficiência reclamam que são contratadas apenas para cumprir quotas, sem um real compromisso de inclusão. Muitas vezes, são colocadas em funções pouco relevantes e repetitivas, enfrentando dificuldades para se adaptar aos ambientes de trabalho.

Evidencia-se que trabalhadores com deficiência valorizam benefícios como assistência médica, planos de carreira e treinamentos. Embora a Lei de Cotas seja crucial para a inclusão, empresas e a própria lei podem ser insuficientes. Para reter talentos e evitar penalidades, as empresas precisam investir na inclusão, considerando ofertas de trabalho remoto, que os participantes preferem.

Acima de tudo, a pesquisa destaca a importância do trabalho remoto para pessoas com deficiência, proporcionando autonomia e independência ao permitir que trabalhem em ambientes acessíveis. No entanto, pós-pandemia, menos da metade continuou a trabalhar remotamente, e alguns perderam seus empregos. A pesquisa sugere investigar se as demissões ocorreram devido a dificuldades em tornar os ambientes presenciais acessíveis e se a baixa produtividade também contribuiu, considerando as dificuldades com ferramentas de trabalho remoto.

Respondendo às perguntas-chave

Retornando às questões que orientaram o curso dessa pesquisa, apresentadas logo no início, pode-se entender que:

Quão importante é o trabalho remoto para atrair, manter e promover pessoas com deficiência?
Resposta: Esse formato de trabalho é relevante para esse público dado que permite tais profissionais a realizarem suas atividades em um ambiente que já atende às suas necessidades. Além disso, quando combinado com benefícios ofertados pelo empregador como assistência médica de qualidade e planos de carreira estruturados, pode fazer com que essas pessoas se sintam pertencentes ao ambiente de trabalho, progredindo e sendo mais produtivas para a empresa. Se a empresa não oferecer essa opção, pode ser difícil manter tais profissionais, já que estão aptos a buscar oportunidades em outras empresas que ofereçam trabalho remoto.
Quais são os desafios e oportunidades do trabalho remoto para manter, promover e aumentar a produtividade das pessoas com deficiência no mercado de trabalho?
Resposta: O fato de poder trabalhar em um ambiente já adaptado ao seu conforto, permitindo um cotidiano flexível. Já o fato de não conseguir se desligar dos assuntos do trabalho estando em casa é um obstáculo que qualquer pessoa, independente de sua deficiência, mas os problemas enfrentados durante o uso das ferramentas online de trabalho que, por sua vez, podem ser inacessíveis com as tecnologias assistivas das pessoas, impede totalmente pessoas com deficiência trabalharem com a mesma eficiência e eficácia quando comparadas àquelas sem deficiência.
O trabalho remoto está realmente sendo mais inclusivo e acessível para essa população?
Resposta: Sim, essa modalidade é essencial para pessoas com deficiência garantirem sua autonomia e independência, logo, é acessível e permite incluir tais profissionais no mercado de trabalho.

Conclusão


O objetivo principal dessa pesquisa foi entender como o trabalho remoto pode ser uma oportunidade para a entrada de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, além de ser um diferencial para atrair talentos e promover o desenvolvimento de carreiras. Para isso, uma pesquisa de campo foi realizada com a colaboração de profissionais com deficiência, divulgando-a em comunidades online voltadas para esse público. Os resultados destacaram a importância vital do trabalho remoto para a carreira das pessoas com deficiência, servindo como uma ferramenta de inclusão e retenção no mercado empregatício.

Ao optar pelo trabalho remoto, desde que as ferramentas sejam acessíveis, a pessoa com deficiência pode escolher o local que melhor atende às suas necessidades e conforto em relação ao ambiente físico. No entanto, é importante mencionar que a pesquisa enfrentou desafios, especialmente no método de recrutamento, o que pode impactar a representatividade da amostra em relação à população total de pessoas com deficiência. Além disso, há uma necessidade de explorar mais sobre o trabalho remoto para pessoas com deficiência múltipla e/ou deficiência intelectual, pois não foi possível obter respostas desse grupo.

Futuros estudos podem expandir essa base de conhecimento e investigar a taxa de rotatividade de profissionais com deficiência após a pandemia, considerando o aumento do trabalho remoto. Esses estudos podem analisar se a falta de acessibilidade influenciou os motivos da rotatividade e se o modelo de trabalho remoto poderia ter sido benéfico para manter esses profissionais no mercado formal.

Apesar dos avanços na compreensão dos direitos das pessoas com deficiência, o estigma social ainda persiste. A discussão e a conscientização sobre o tema precisam ser ampliadas. A simples atração de talentos com deficiência não é suficiente se eles não se sentirem verdadeiramente incluídos e aceitos. A concepção de inclusão social delineada pelas cotas legais ainda não atingiu seus objetivos, destacando a necessidade de uma mudança de mentalidade na sociedade, especialmente nas empresas. A visão deve se voltar não apenas para os custos da inclusão, mas para os benefícios resultantes de um ambiente de trabalho inclusivo, promovendo interações positivas entre pessoas com e sem deficiência. Essa mudança de mentalidade não deve se concentrar apenas nos aspectos financeiros, mas também nos resultados positivos que a inclusão pode trazer para todas as pessoas.